sexta-feira, janeiro 15, 2010

A Análise: Revolta - "Ninguém Manda Em Ti"

"Punk is not dead": frase muitas vezes referida pelo mundo fora. Portugal não escapa mas parece que em termos de produção estava tudo muito estagnado, pelo menos nesta década que terminou.
A chama mantia-se acesa com os donos do trono do punk português, os Tara Perdida, que sucederam os Censurados, ambos de João Ribas, mas nada de novo e com sucesso surgia. Com os seus "irmãos comuns" da década de 90: Acromaníacos, Capitão Fantasma, K2O3 e os Fonzie, e ainda os resistentes da década de 80: Mata-Ratos e Peste & Sida, os Tara Perdida lá iam segurando o punk nacional, pouco expressivo na primeira década de 2000, onde houve apenas os nascimentos dos Vicious Five, que terminaram no ano passado, Fitacola e Barafunda Total para animar um pouco as forças do punk.
No entanto, já a meio e perto do final da década, houve quem dissesse que estava aí uma nova vaga com os Revolta e os Gazua a encabeçarem esta nova selecção de bandas de punk em Portugal. Finalmente e ainda bem!
Destaque para os Revolta, formados por Bruno Alves (ex-Porta Voz), António Côrte-Real (UHF), filho de António Manuel Ribeiro dos UHF, e Anselmo Alves (ex-Lulu Blind), que este ano editaram o seu álbum de estreia Ninguém Manda Em Ti. E qual a cidade onde nasceram? Almada, claro - berço do punk nacional.
Finalmente apareceu no panorama musical nacional uma banda capaz de reactivar um espírito que moldou o final da década da 70 e inícios da 80 em Portugal. Os Revolta, já experientes nestas andanças musicais, exprimem muito bem em onze faixas do que o punk deve ser feito: mensagem crítica, solos rápidos e muita velocidade. Curto e grosso.
António Côrte-Real, guitarrista da banda e também dos UHF, mostra aqui toda a sua escola de formação nos UHF e todo o reportório musical que conheceu e conhece dos anos 70 e 80.
Quanto ao álbum temos o essencial: temas politizados como "Nuclear (Não Obrigado)" ou "Bush", e muita palavra de revolta em "Ninguém Manda Em Ti" ou "Um Aviso", entre outras. António Manuel Ribeiro, líder dos UHF, escreve "As Pessoas (Como Se A Pressa Fosse Urgente)", o que mostra como um dos maiores rostos da música portuguesa viveu intensamente os frenéticos anos de glória do punk. [n.d.r.: Manuel Ribeiro escreveu a mítica faixa "Cavalos De Corrida" um dos momentos da música portuguesa em que a veia punk nacional foi colocada à vista.]
Uma surpresa, que deixa de ser surpresa com um olhar atento à formação da banda, é a introdução de "Persona Non Grata", uma faixa presente no álbum com o mesmo nome editado em 1982 pelos UHF. Claramente muito mais rápida do que na sua versão original, mas muito bem escolhida para uma nova versão. "Um Aviso" é a faixa que encerra este álbum e mostra os Revolta com uma calma nada habitual neste álbum.
Já com 2009 fechado uma coisa parece certa, Ninguém Manda Em Ti, dos Revolta, é um dos álbuns que irá mostrar os futuros caminhos do punk nacional.
Carlos Montês

1 comentário:

  1. O Punk não está morto, Não!
    Esta nova geração, que surge da necessidade revolucionária de pôr em causa a sociedade, é efectivamente merecedora de valorização do seu trabalho.
    Revolta não é só uma palavra, é um estado de espirito inconformado, não é musica reactiva é intervenção social. Este disco tem muita qualidade, desde o inicia, que antecede o "Hino" de partida "Ninguem Manda em Ti!" até a ultima faixa, a banda apresenta temas que podem ser o pretexto para uma Revolução com sentido transformador, garante a continuidade do Punk/Rock bem feito em Portugal.
    Vamos pegar na Revolta e exigir uma mudança na nossa sociedade, fazer da inconformidade e da esperança no futuro a palavra de ordem!
    Aqui fica o Aviso, NINGUEM MANDA EM TI!
    Francisco

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