Le Noise: que melhor título poderíamos dar a um álbum em que a distorção e o ruído estão de volta ao universo de Neil Young? Tudo está explicado no título. O canadiano, com mais de 50 anos de carreira, voltou aos discos em 2010 com uma resposta rápida ao pouco certeiro Fork In The Road de 2009. Trigésimo terceiro na carreira e Neil Young parece não parar.
O sucesso foi muito superior ao antecessor e a aclamação não se fechou em copas aplaudindo a sua incursão pelo rock mais experimental, com a típica veia de Neil Young nalgum blues, no garage e na velha folk rock. No entanto reina o experimentalismo. As contradições e os ambientes explorados em outros discos mais recentes parecem continuar, mas a solidez neste disco falou mais alto. Um Young eléctrico, com baterias e baixos inexistentes, com ruído, ambientes psicadélicos e muito experimentalismo numas guitarras e violões. A calmaria apenas surge nas bonitas e bem interpretadas "Love And War" e "Peaceful Valley Boulevard", num tom mais confessional de Young de guitarra ao colo.Neil Young consegue explodir pelo meio do álbum mas a procura de experiências com as suas guitarras, pedais e efeitos são maiores que tudo neste disco e daí resultam canções com corpo que ocupam todo o espaço envolvente. A abertura com "Walk With Me" é desde logo surpreendente para o menos aficionado com o espólio de Neil Young, uma guitarra cheia de efeitos, distorção e delay. Temos a voz hipnotizante e cheia de efeitos de "Sign Of Love" ou a esperançosa "Hitchhiker" e muitos coros samplados. A morte paira num disco também ele politizado. Ruidoso, distorcido, experimental, cativante e peculiar, é este o universo de Le Noise que afasta-nos por momentos do universo convencional de Neil Young mas que nos abraça aos poucos e poucos, à medida que o disco chega ao fim. Neil Young arrisca muito mas ganha ainda mais. Ele é maior que todo este álbum e mostra-nos toda a sua versatilidade ou não fosse ele uma lenda viva e um dos heróis do rock e da folk de sempre.
Carlos Montês
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