Field Music (Measure) assim se dá a conhecer o terceiro disco de originais dos britânicos Field Music, que tiveram uma boa aceitação por parte da imprensa. Mais uma proposta de indie rock alternativo à procura de um tom mais clássico e épico - maior que eles próprios.
De notar desde logo que isto é um álbum duplo. Dois discos, com dez músicas cada, que mostram a fibra da banda. Muita música poderemos afirmar, mas este disco ouve-se com uma facilidade tal que em pouco tempo nos encantamos com a afronta que é apresentar vinte músicas num só trabalho. O disco está pensado ao pormenor: xilofones, violinos, pianos, coros, solos de arrepiar, letras cativantes - oiçam o registo mais umas duas vezes que começam a trautear duas ou três músicas -, e uma tentativa latente de serem superiores a si mesmos. Desejos de uma banda que passa despercebida nesta selvajaria que é o mundo da música.Influências podem-se enumerar muitas, o reportório dos The Beatles [na sua fase mais experimental associada às drogas] será o mais completo para exemplificar a música dos Field Music, mas verdade é que a banda foge deste rótulo como de tantos outros que lhes possam impor. A consistência pode parecer difícil mas está lá, é ouvir Measure para confirmarem tal presságio - é que nem a divisão do álbum em dois se nota, tudo se pode ouvir continuamente sem que um lado b, no sentido negativo deste lado, surja. As escapatórias e os rumos das canções não são óbvias, até mesmo para o mais aficionado melómano - "Each Time Is A New Time", por exemplo. Há portas abertas aos Yes com aquela pop transbordante mas de peito aberto ao rock progressivo na sua veia mais experimental e os arranjos também não são para menos. Bowie será, certamente, também um dos artistas que os Field Music têm andado a ouvir a avaliar pelas cores 'camaleónicas' de Measure e pela linha onde vagueiam, onde nunca se perdem ou se quer chegam a parecer aborrecidos. O baú está cheio de referências e a procura incansável de uma identidade parece a luta neste disco, ou não apresentassem aqui dois discos num só.Parte deste vazamento de tanta e boa música deve-se ao hiato da banda em 2007, que pelos visto só lhes fez bem. Para quem já os conhecia e tinha sede de música nova de certo que tiveram direito a uma boa refeição - musical, entenda-se - com direito a entradas e sobremesa; para quem ainda não os conhece aqui está uma boa proposta de reinvenções a tudo o que já conhecemos e ouvimos. A familiaridade do disco torna-se evidente depois de o ouvirmos várias vezes mas não deixa de ser inquietante a busca incessante do ouvinte por algo que realmente possa influenciar este disco. O prazer de Measure é esse mesmo, a busca de identidade por parter dos Field Music que se manifesta-se ao longo do disco. Um CD duplo muito diferenciado mas não disperso e fora dos parâmetros normais que um duplo CD nos oferece - em que mais música pode ser significado de altos e baixos -, é obra.
Carlos Montês
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