Sejamos sinceros: em 2006 os Oioai até poderiam ser os "futuros Xutos & Pontapés", como a imprensa musical os apelidava, hoje, em 2010, não! Em 2006 a banda de Pedro Puppe apresentava o seu álbum de estreia homónimo com o single (mais que) orelhudo "Sushi Baby" - puseram numa canção o que muitos casais no mundo fazem, hiperbolizar um sentimento: "Amo-te mais / Àgua que as torneiras / Amo-te muito mais alto que as nuvens..." - e ainda apresentaram, posteriormente, "Jardim Das Estátuas" e "Deves Estar A Chegar", que fizeram deles mais uma das promessas da música portuguesa. [Alguns disseram que as suas letras eram básicas... mas a música precisa de ser sempre muito complexa e profunda?]
No entanto, apelidá-los hoje de "futuros Xutos & Pontapés" é insensato. PRIMEIRO: os Xutos & Pontapés comemoraram no ano passado os seus 30 anos de carreira, reforçando cada vez mais a sua qualidade e estatuto de maior banda portuguesa; SEGUNDO: os Xutos & Pontapés caminham, a passos largos, para a fase em que se encontram agora bandas como os Rolling Stones, Aerosmith, Bon Jovi ou, mesmo, os Metallica; e, TERCEIRO: é difícil apostar nos Oioai, com este segundo álbum, como possíveis sucessores de uma das únicas bandas que se "safou" do boom do rock português dos anos 80, a par com UHF ou GNR. Os tempos são outros e, no final desta primeira década século XXI, era da Internet, criaram-se outras novas vagas de bandas portuguesas que não tiveram impacto igual ao originado naquela década pós-25 de Abril.
Não que Pela Primeira Vez, o segundo álbum dos Oioai, produzido por Nuno Rafael (Humanos, Sérgio Godinho), esteja mau, muito pelo contrário. Passaram três anos desde a sua estreia e a banda mostra maturidade e uma linha muito própria na sua música. Este disco é muito mais consistente e homogéneo do que o primeiro, reflectindo cada vez mais o cuidado que a banda tem nas suas letras e a sua maior segurança ao interpretá-las, algo que não acontecia na sua estreia. Porém, este trabalho não apresenta singles tão "comerciais" como os do seu antecessor o que desde logo falha um dos objectivos: chegar a um maior número de pessoas possível. Talvez músicas como "Pela Primeira Vez" e "Desobedecer", num futuro próximo, conseguiam ter um efeito igual ao produzido no primeiro álbum mas é fácil observar que isso não acontecerá. Não se estranhou o facto deste segundo registo não fazer muito alarido nas hostes musicais: a banda ocorreu no erro de lançar o sucessor de Oioai - o álbum de estreia - três anos após o primeiro, o que em Portugal, e no início de uma carreira prometedora, não pode acontecer pois caem no esquecimento; no máximo eram dois anos de intervalo. A indústria musical, e em particular a portuguesa, ainda não permite tais coisas. Porventura dentro de cinco a dez anos. No fim de contas fica o seguinte: os Oioai superaram, com alguma classe, o "difícil segundo álbum" e, Pela Primeira Vez, não sendo o primeiro álbum da banda mas sim o segundo, pode ser o empurrão necessário para que a banda consiga fazer o seu próprio percuso em Portugal. Carlos Montês
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