The Empyrean, o décimo trabalho da carreira a solo de John Frusciante, saiu no início do ano passado, quatro anos após o seu antecessor Curtains de 2005.
O ano de 2009 para Frusciante, fica obviamente marcado pela sua saída dos Red Hot Chili Peppers e basta ouvir The Empyrean para perceber porque isso acontece. Há muito que os RHCP deixaram de ser um projecto entusiasmante para John Frusciante, tendo em conta o seu trabalho a solo, nos Ataxia e nos The Mars Volta. A grande surpresa é a saída só se ter dado no ano passado.
Mas falando concretamente do novo disco do músico, que afinal é o tema deste artigo, podemos dizer que é mais um disco em que John Frusciante se volta a superar. Quem conhece a carreira a solo de Frusciante sabe do que estou a falar: desde que se aventurou numa carreira a solo, o músico tem explorado ao longo dos vários álbuns que já editou diversas vertentes do rock [rock psicadélico, indie rock...], música electrónica e até vertentes mais extremas de experimentalismo como o avant-garde. Como ilustres convidados na gravação deste disco surgem os bem conhecidos Flea dos RHCP, Johhny Marr dos Smiths e Josh Klinghoffer (o seu substituto nos RHCP).
Conhecido essencialmente pelo seu trabalho como guitarrista, Frusciante revela ser a solo um exímio interprete. Seja nas faixas mais calmas ou nas com mais groove, o timbre algo estranho da voz do músico encaixa que nem uma luva nas suas suaves composições instrumentais. A nível de guitarra, o trabalho de Frusciante ganha uma enorme dimensão em termos dos solos com muito uso do pedal de distorção, uma constante nas sonoridades mais psicadélicas. Alguns temas deste trabalho, quer pela sua duração quer pelas constantes mudanças de ritmo, parecem autênticas viagens sonoras que experimentam diversas abordagens, sendo o caso mais flagrante "Dark Light". Altamente recomendáveis neste disco são também as faixas "God", "Enough Of Me" e a versão de "Song To The Siren", original de Tim Buckley.
A atmosfera sonora e lírica de The Empyrean é uma boa maneira de começar a conhecer a carreira a solo de John Frusciante, embora haja muitos mais discos recomendáveis na sua discografia. Um senhor músico, que agora terá de lidar com uma carreira a solo com níveis de popularidade astronomicamente diferentes daqueles que o músico já gozou nos Red Hot Chili Peppers. Algo que certamente, não assustará Frusciante.
André BedaJohn Frusciante, mais conhecido por ter sido o guitarrista dos californianos Red Hot Chili Peppers até ao final do ano passado, lançou no início de 2009 mais um álbum para a sua carreira a solo. Para quem conheça apenas o seu trabalho nos Red Hot Chili Peppers o espanto será um dos primeiros sentimentos com os quais serão confrontados com a audição deste trabalho. Mas verdade seja dita, com este, John Frusciante chega a uns impressionantes dez trabalhos de originais a solo, sem contar com EPs e bandas sonoras. No entanto, o espanto não se deverá, de certo, pela quantidade mas sim pelo conteúdo. A solo, com o super grupo Ataxia - projecto que juntou o próprio, Joe Lally (Fugazi) e Josh Klinghoffer - ou com os seus amigos de longa data os Mars Volta, John Frusciante revela, há já muito tempo, a sua veia mais experimental, psicadélica, progressiva e alternativa, que o afasta completamente do funk rock elástico dos Peppers. Desde, pelo menos, 1994 - data do lançamento do seu primeiro álbum a solo - que a esquizofrenia do rock é matéria de trabalho para Frusciante, muito provavelmente por estupefacientes que entraram, outrora, na sua vida. Prefácios aparte, debrucemo-nos então em The Empyrean, o último álbum de Frusciante. Trabalhado durante cerca de dois anos, é tratado pela imprensa como um álbum conceptual, algo que o próprio músico reafirma. No disco existem alguns factos interessantes: a introdução de "Song To The Siren" no alinhamento, original de Tim Buckley, e os convidados de luxo, Flea (Red Hot Chili Peppers) no baixo, o multi-instrumentalista Josh Klinghoffer, já habitué em participações com Frusciante, e ainda Johnny Marr, guitarrista dos extintos Smiths a assumir neste registo a guitarra eléctrica e a acústica. A sua voz aguda permite que faixas como "Song To The Siren", "Dark Light" ou "After The Ending" se tornem em sublimes sussurros no ouvido. Os pianos "à la rock progressivo" que percorrem o álbum não deixam dúvidas quanto a influências e a introdução de elementos extra-musicais são exemplos do que deve ser feito neste mesmo género: a experimentação mas também uma certa sensibilidade quanto à sua introdução e qualidade. O funk, esse, também não é esquecido; músicas como "Before The Beginning", "Today" ou "Ah Yom", com um ouvido mais atento às guitarras, mostram-no. The Empyrean, para além de reafirmar Frusciante como um músico de grande valor e com uma amplitude musical vasta, é um álbum que mostra todo o seu universo mais próximo e pessoal - hipnótico mas confortável. Tudo razões para olhar com outros olhos a carreira e o artista que é John Frusciante, um dos melhores da sua geração.
Carlos Montês
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