quinta-feira, julho 26, 2012

A Análise: Dead Combo - "Lisboa Mulata"

Não é novidade para ninguém que África é um dos territórios mais férteis no que à música diz respeito. Se lá fora há grandes nomes da música a explorar esse filão, como Damon Albarn e Flea, no nosso Portugal temos os Dead Combo a fazê-lo. O novo álbum da banda sabe e cheira a terra, provando que o título Lisboa Mulata não lhe é dado à toa.
Há não muito tempo tive a oportunidade de assistir a um documentário que ilustra bem o que a música portuguesa tem de melhor e mais original: o cruzamento de culturas. Lisboa é uma cidade virada para o mar e Portugal colonizou territórios na América do Sul, África e Ásia. Daí vem a grande riqueza da nossa cultura, que, não por raras vezes, tende a ser esquecida. Bem ciente desse riquíssimo cruzamento cultural parece estar uma "banda de guitarras" tuga. Sim, os Dead Combo baseiam o seu som em guitarras e não deixa de ser impressionante ouvir o que se pode fazer recorrendo a esse instrumento e... pouco mais.
Os característicos ritmos africanos são bem evidentes nos dois primeiros temas do álbum, mas nos momentos mais calmos que se seguem continuamos a sentir o calor do continente impresso na música dos Dead Combo. Lisboa Mulata é um álbum que apela ao nosso cérebro a criação de ambientes para cada música. "Ouvi O Texto Muito Ao Longe", com a preciosa ajuda de Camané, cheira Alfama por todos os cantos, enquanto "Marchinha Do Santo António" - apesar do nome - nos remete para um cenário paradisíaco de águas cristalinas. De cada vez que um disco nos desperta estas sensações relembra-nos porque razão gostamos tanto de música...
André Beda
Tó Trips e Pedro Gonçalves. Lisboa e África. Estes são os dados de mais um disco para a dupla que começa finalmente a obter a atenção merecida do estrangeiro. Eles são rock, eles são pop, eles são world music, eles são jazz, eles são blues e eles até são fado [nota: Camané empresta a voz em "Ouvi O Texto Muito Ao Longe", original de Sérgio Godinho]. Agora mergulham nos PALOP, vão para o meio da capital portuguesa, misturam-se com as pessoas, ouvem música de latitudes mais baixas, trocam a cor da pele e são africanos também!
Em Lisboa Mulata os Dead Combo mostram o seu esqueleto. Uma banda ecléctica do e para o mundo, made in Portugal e como só este país poderia produzir. Uma música sem tempo, de memórias e de esperanças, e com peças soltas que se unificam num trabalho arrebatador. A música é mais crua do que nos discos anteriores e os detalhes são mais profundos e menos óbvios. A execução é brilhante e o som produzido pelas guitarras, baixos e contrabaixos da dupla (e dos seus acompanhantes) é encantador. Lisboa Mulata é, no fim de contas, o reflexo do nosso blues: Fado e África.
Carlos Montês

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