Tão difícil como fazer um segundo álbum que corresponda as expectativas de uma estreia auspiciosa é fazer o sucessor de um daqueles discos que, por norma, só se fazem uma vez na vida. Não é exagero, The Blackening é mesmo o OK Computer da carreira dos Machine Head. Safaram-se? No final, é justo dizer que os Machine Head saíram desta encruzilhada com mestria. Este tipo de álbuns referidos em cima resultam em duas únicas saídas: ou a banda fica acomodada ao som desse disco e repete-o até à exaustão (olá AC/DC!), ou pensa que a partir daí tem crédito para fazer o que lhe der na cabeça (olá Radiohead!). Apesar da segunda opção ser a mais interessante para quem realmente gosta de música, os Machine Head encontram uma terceira saída: abrem algum espaço a novas ideias, mas mantêm o ADN do seu som.
O arranque de Unto The Locust é bom com "I Am Hell", um misto de brutalidade com melodias épicas e serenas. Aliás, esse acaba por ser o fio condutor do disco, que mistura eficazmente ataques violentos e secções melódicas e calmas. Robb Flynn é hoje um vocalista muito mais completo, também capaz de acompanhar estas secções mais calmas. De resto, "Locust" é um single eficaz, "This Is The End" é um enorme tema de metal e a parelha "Who We Are" e "Darkness Within" aparece num registo muito diferente daquilo que são os Machine Head, mas não deixam de ser agradáveis surpresas. As músicas são dinâmicas e o álbum é diverso, o que faz com que não seja minimamente penoso ouvi-lo, até para alguém que não seja propriamente apreciador dos Machine Head.
Para terminar, uma breve referência às vendas do disco - algo a que não damos muita importância por aqui, mas que neste caso importa referir. Unto The Locust vendeu 17.000 cópias na primeira semana, entrando directamente para o número 22 do top norte-americano, o lugar mais alto alguma vez atingido pela banda de Oakland. Tudo isto representa um aumento de vendas de mais de 20% em relação ao antecessor The Blackening, lançado quatro anos e meio antes de Unto The Locust. Refira-se ainda que nesses quatro anos e meio o mercado de vendas de discos encolheu 45%. Absolutamente brilhante.
André Beda
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