quinta-feira, janeiro 20, 2011

A Análise: Mão Morta - "Pesadelo Em Peluche"

A mudança fora anunciada: os Mão Morta preparavam para 2010 um álbum de rock. E quando disseram rock, não queriam dizer que tinham feito álbuns de pop até então. Apenas queriam passar para a imprensa a ideia que vinha aí um álbum sonoramente menos complexo.
Nada do que a banda disse antes foge um centímetro à verdade: Pesadelo Em Peluche é, efectivamente um dos álbuns mais fáceis de ouvir da carreira dos Mão Morta - talvez tenhamos de recuar até 1991 para encontrar um parecido. Apesar de tudo isto, não se pense que a mudança foi assim tão grande. Os Mão Morta não passaram a ser mestres em fazer super-singles para passarem em alta rotação na rádio. "Novelos Da Paixão", que foi imensamente criticado pelos puristas que afirmavam ser uma música ultra-comercial, teve algum airplay, mas nada que seja indicio de qualquer tipo de massificação da música dos Mão Morta.
Não é por acaso que os Mão Morta são a maior banda de culto nacional: "E Se Depois..." e "Budapeste" chamaram para si alguma atenção e as actuações ao vivo fizeram o resto do trabalho para criar o mito que dura até aos dias de hoje. É impressionante como metaleiros, alternativos, malta do industrial e até do jazz se unem à volta dos Mão Morta, uma banda que parece estar acima de qualquer rótulo.
Voltando à batata quente, isto é, Pesadelo Em Peluche há ainda a dizer que valeu aos Mão Morta uma actuação no palco principal do Optimus Alive!, o mais popular festival dos últimos anos. Quem assistiu aquele concerto dos Mão Morta sabe o que eu quero dizer quando afirmo que os Mão Morta não estavam no seu habitat natural naquele fim de tarde. Ponham-nos num Paradise Garage, num Musicbox ou mesmo num Hard Club e verão o que é um verdadeiro concerto dos Mão Morta, onde a proximidade ao público é maior, onde o próprio público é mais conhecedor da banda do que a maioria dos que estavam no Alive!. Acho que a reacção (ou falta dela) daquele público a "Novelos Da Paixão" mostra bem quão estavam enganados os que qualificaram esta música como ultra-comercial.
O que há a reter é que Pesadelo Em Peluche, independentemente do tipo de disco que quer ser, acaba por ser mais um ponto alto na carreira dos Mão Morta. Nele estão incluídas músicas que poderão ficar para sempre ligadas à história dos Mão Morta, e que os proprios vão ter dificuldade em deixar de lado nos espectáculos ao vivo, como "O Seio Esquerdo De R.P.", "Tiago Capitão", "Paisagens Mentais" e "Teoria Da Conspiração". Seja apenas rock ou rock e algo mais, longa vida aos Mão Morta.
André Beda
"A Feira de Atrocidades", livro de J. G. Ballard, é o ponto de partida para mais um álbum dos Mão Morta. Seis anos após Nus, Pesadelo Em Peluche é o regresso aos discos dos bracarenses - com mais de 25 anos de carreira - e também o regresso ao sucesso comercial.
"Novelos Da Paixão" foi a primeira canção a fazer-se ouvir. A Universal apostou neles e claro que a banda foi inteligente o suficiente para voltar a fazer música mais imediata, ao invés de grande parte da sua carreira. Afinal este primeiro single é o exemplo máximo do que é Pesadelo Em Peluche: rock sem espinhas nem artifícios mas com a identidade de sempre dos Mão Morta - as letras continuam com a mesma acutilância e Adolfo Luxúria Canibal igual a si mesmo. Só a parte instrumental é que é mais acessível.
Desde sempre senhores da sua música, os Mão Morta apresentam aqui um álbum tão imediato como Mutantes S.21 de 1991. Exemplos claros desta música sem rodeios são: "Como Um Vampiro", com Fernando Ribeiro dos Moonspell; "Teoria Da Conspiração" - que junta o industrial e o punk rockabilly (parece impossível não?); "Tardes De Inverno" ou "Penitentes Sofredores". Rock à moda antiga, "it's just only rock & roll but I like it!".
Se os os fãs acérrimos da banda tiveram medo de "Novelos Da Paixão" ou de "Fazer De Morto", tenham calma, restos daqueles taciturnos e complexos Mão Morta temos "Paisagens Mentais", "Biblioteca Espectral" ou "O Seio Esquerdo De R.P.".
Se para muitos a carreira dos Mão Morta é um "pesadelo", torna-se em 2010 um "peluche" com este álbum - afinal a música dos Mão Morta nem sempre é fácil, e aí está o desafio. Será certamente o ponto de partida para a audição da música do universo de Adolfo Luxúria Canibal para muito boa gente.
Essencial para a consagração de uma carreira, Pesadelo Em Peluche é a convergência de toda uma carreira num só álbum. Não acreditam? É colocar em play que logo vêem (ou melhor ouvem).
Carlos Montês

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