quarta-feira, janeiro 26, 2011

A Análise: Linda Martini - "Casa Ocupada"

Começam a faltar as palavras para descrever o que quer que seja feito pelos Linda Martini. São sem dúvida a banda do ano, mas calma: não se pense que são um fenómeno passageiro. Aliás, essa é a parte surpreendente: o nível de quase unanimidade que auferem, nos dias que correm, é tudo menos normal.
Casa Ocupada chega, apresentado pela própria banda, como um disco com um som mais directo que a estreia (Olhos De Mongol, 2006). De facto, o primeiro longa duração banda não causou as reacções imediatas que Casa Ocupada causou, com o disco, inclusive, a permanecer durante algumas semanas no top de vendas nacional. Ao invés disso, o sucesso de Olhos De Mongol foi construído entre 2006 e 2010. Esta espera, em vez de colocar os Linda Martini num canto da memória dos melómanos, foi abrindo o apetite do público.
São muitas vezes apelidados "Sonic Youth portugueses" e chamaram a uma das músicas de Casa Ocupada "Juventude Sónica". Segundo a banda, é para as más línguas já terem as pedras na mão, antes de tudo. Tirando o tema em questão (que não soa necessariamente a Sonic Youth) e a introdução bem característica de "Elevador" esqueçam o rótulo. Esqueçam tudo o resto. Linda Martini é do mais original que se faz na música portuguesa na actualidade.
Na questão da originalidade, não nos vamos restringir ao estilo, o post-rock. Já existem umas quantas bandas do estilo cá pelo sítio. Mas quantas delas conseguem fundir a língua portuguesa com uma sonoridade que tem todas as suas raízes lá fora? É neste ponto, e com temas como "Belarmino", "Amigos Mortais" e "Nós Os Outros", que os Linda Martini transpõem a linha do post-rock. E de qualquer outra coisa que já vos tenha passado pelos ouvidos.
Não podia acabar este texto sem uma breve referência a "Cem Metros Sereia". Instrumentalmente a melhor do disco e, apesar de alguns acharem a letra demasiado "teenager", a letra mais curta com maior significado do rock nacional. Quanto ao futuro, se os Linda Martini continuarem por alguns anos neste nível vão ser uma das maiores bandas rock nacionais. Se acabarem amanhã, passarão a ser o maior mito da música portuguesa.
André Beda
Se em 2009 The Legendary Tigerman foi rei e senhor com Femina, 2010 parece trazer unanimidade a Casa Ocupada dos Linda Martini. Aqui talvez falte o carinho que todos os portugueses têm pela música em inglês (aversão ao português) - boa ou má - e pelo rock já "velho conhecido", quando neste caso se trata num género mais ou menos recente. Mas farpas aparte, Casa Ocupada parece ter chegado ao mesmo ponto - e não é para todos!
Passo a explicar: Olhos De Mongol, já do longínquo ano de 2006, é a estreia em longa-durações dos Linda Martini e só quatro anos depois é que vemos editado o difícil (neste caso devido ao tempo) e tão aguardado segundo álbum. Se há coisa quase impossível hoje em dia na música portuguesa é um intervalo de quatro anos sem disco novo sem cair no esquecimento - aplausos. Pelo contrário os fãs dos Linda Martini aumentaram, a fome de música nova também, e pelo meio a banda foi editando uns EPs para não cair em total esquecimento e para aquecer e treinar os músculos - é obra! É obra porque em 2010 aparecem-nos mais frescos que nunca e com aquele que é certamente um dos, senão «o», melhor trabalho da sua discografia.
De "novos Ornatos Violeta" a "Sonic Youth portugueses" (ouvir "Juventude Sónica") foi um passo rápido no início da sua carreira e neste último rótulo - que apesar de tudo é apenas um rótulo - lá ficaram. No entanto, Casa Ocupada está para lá de uma cópia de um Daydream Nation, um Goo ou um Dirty dos Sonic Youth - que tanto prezo. É post-rock ("Mulher-A-Dias", "S De Jéssica", "Amigos Mortais"), é portugalidade ("Belarmino", "Queluz Menos Luz"), é um buscar de raízes hardcore e punk da banda ("Ameaça Menor", "Cem Metros Sereia"), é rock ("Elevador", "Nós Os Outros"). Casa Ocupada é de inflamar o coração e a alma e de encher o ouvido.
Ao segundo álbum de estúdio os Linda Martini confirmaram, de vez, que são um dos novos grandes nomes da música portuguesa. Sucesso, elogios e força é o que não lhes falta, agora é esperar para o que vem aí a seguir - e a fasquia está alta. Há quem chame a isto fado noise e em boa-hora foi dito.
Carlos Montês

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