quarta-feira, agosto 10, 2011

A Análise: Grinderman - "Grinderman 2"

Vou tentar não cair no cliché de dizer que Nick Cave é «o último herói do rock». Mas se olharmos para a sua carreira fica bastante difícil não afirmarmos qualquer coisa do género. 2010 trouxe-nos o segundo disco dos Grinderman, um projecto de Nick Cave que vai trabalhando nos intervalos dos Bad Seeds (será?).
Apropriadamente intitulado Grinderman 2, o seu título diz bastante do que se pode esperar dos próximos 41 minutos de música. Tal como o título remete para algo que podemos considerar primário (chamar Grinderman 2 ao segundo álbum dos Grinderman... dessa ninguém se ia lembrar), também a música nos remete para algo primário. E com primário não quero dizer simples, chato ou previsível. Primário, mas no bom sentido.
Podemos sentir, a cada momento, a agressividade do som de Nick Cave e companhia: mudanças constantes de ritmo, guitarras em distorção, bateria em fúria e gritaria quanto baste. Em parte os Grinderman devem servir para deitar fora alguma da energia acumulada nos Bad Seeds por Cave. Algo notável, uma vez que a maioria dos membros dos Grinderman já passou ou está perto dos 50 anos. Apesar das guitarras que querem saltar a todo o custo dos amplificadores, há espaço para momentos melódicos ou introspectivos. Um belo exemplo disso é o refrão de "Worm Tamer" onde, por entre o caos instrumental, Nick Cave canta num tom surpreendentemente dócil. As sonoridades experimentais e menos associadas ao rock são também uma constante, algo que acrescenta valor ao disco.
Se pensarmos que os Grinderman nascem apenas de um aborrecimento de Nick Cave e de umas improvisações de ritmos e melodias o mito torna-se ainda maior. Apesar de tudo o que já conseguiram os Grinderman continuam a ser um projecto paralelo, não se sabendo ao certo o quanto essa condição poderá afectar o futuro da banda. Para nós, aficionados da boa música, podem ficar por cá quanto tempo quiserem.
André Beda
Grinderman o projecto paralelo de Nick Cave. Poderíamos resumir nesta frase esta banda, um dos projectos paralelos de Nick Cave, no entanto os Grinderman e Grinderman 2 são grandes o suficiente para caberem na prateleira de melhores de 2010, bem como de uma boa colecção de rock 'n' roll sem medos.
Primeiro grande factor para que Grinderman 2 seja superior a Grinderman, a sua estreia de 2007: mais polido, mais prepotente e com uma personalidade bem mais vincada do que aquela a que se propuseram e apresentaram com a sua estreia. O atractivo continua a ser o garage rock e algum punk rock dos anos 60 mas o pesadelos estão definidos, a tal negridão óbvia na abordagem do projecto Grinderman. Se a solo Nick Cave é um mostro do rock romântico e meloso, entre tantas outras coisas, aqui Nick Cave e todos os seus companheiros vestem a pelo de lobo - da capa deste disco - e mostram as suas feridas sem pudor, arranhando sobre elas sem dor. Carnal, sexual, visceral, sensual... - e já andam pela faixa dos 50 anos! Para quem ainda não percebeu bem a essência disto, juntem barbas e muito álcool ao universo Cave - tudo tipicamente rock 'n' roll -, polvilhem com The Stooges ou até mesmo Motörhead ou Led Zeppelin e juntem-lhes alguns dos maiores pesadelos, ao mesmo tempos belos, que alguma vez tenham tido - isto são os Grinderman; com alguns restos de psicadelismo que vagueam no universo dos seus músicos, parte formante dos Bad Seeds, que sempre acompanharam Nick Cave "a solo".
Podemos entender este projecto como o meio para a libertação de Nick Cave: canções mais simplistas e menos profundas do alguma vez tenha feito com os The Bad Seeds, mas o rock 'n' roll não precisa de muita ciência e nisso os Grinderman cumprem o seu papel na perfeição. Aliás com este segundo álbum subiram mais uns degraus para os escaparates e para a ribalta. O mérito de fazerem algo totalmente diferente do que fazem nos Nick Cave & The Bad Seeds ninguém lhos tira.
Cave e Seeds mostram que a juventude não pertence só aos jovens e põem-se a nu, com pele de lobo, num álbum mais consistente e mais pensado que a estreia. Com este disco Cave apela e chama para perto de si todo um novo público - que se espera mais jovem - e provado fica que o rock, e até mesmo o punk, não são só para peles novatas com borbulhas desconcertantes. Os cinquentões de barba ou de bigode, com algumas barrigas proeminentes e que pintam o cabelo também vivem e podem ter esse espírito. A alma importa.
Carlos Montês

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