sexta-feira, agosto 12, 2011

A Análise: The Black Keys - "Brothers"

2010 trouxe o sucesso que já era merecido há algum tempo pelos The Black Keys. Brothers mostrou-se um forno com a capacidade de cozinhar singles orelhudos que hoje podemos ouvir em reportagens de telejornal ou anúncios de televisão, mas também algo mais. Se a tudo isto juntarmos o seu som característico (embora carregado de influências do passado), temos um dos projectos mais interessantes de seguir na actualidade.
Afirmar que Brothers é o melhor disco da carreira do duo norte-americano é algo discutível - até para o maior fã deste trabalho, alguém como eu. A verdade é que este é o disco que os apresentou a um público maior. Uma espécie de Black Album ou Nevermind da carreira dos Black Keys: pode até não ser o melhor, mas é o que vai permitir que mais pessoas conheçam o resto do seu trabalho. Apesar da importância que cada um possa atribuir a estas cerimónias, Brothers foi nomeado para cinco categorias dos Grammy Awards. Até Liam Gallagher afirmou que este disco era um dos seus favoritos da fornada de 2010 - só para tomarem noção da dimensão do sucesso de Brothers.
Inovar na música é possível, e será sempre, mas a verdade é que o mundo já conheceu tantas sonoridades e formas de abordar a música diferentes que se torna difícil para um músico desligar-se de certas influências e ideias do passado. Os The Black Keys não escondem a sua veia retro. Toda a sua carreira assenta num revivalismo do blues rock e até rock psicadélico, assumidamente. A banda tem riffs de guitarra que tresandam a Cream, por exemplo, mas isso não os impediu de criarem um identidade sonora muito própria. O único momento do disco em que ficamos com a recorrente sensação «já ouvi isto antes» é na ode aos The Doors/Led Zeppelin/Black Sabbath "Black Mud". De resto, Brothers é muito mais que uma adaptação do blues rock aos tempos modernos.
Cresceram na sombra dos White Stripes - perguntem à imprensa por que razão (talvez pelo facto de serem um duo) - mas Brothers abre a possibilidade de serem grandes por mérito próprio. Se este sucesso tiver uma boa continuidade estão abertas as portas da globalização do rock ora negro, ora romântico, ora depressivo dos Black Keys. E repare-se que a banda não teve de abdicar ou adaptar a sua sonoridade para o conseguir (ouviram Muse e Kings Of Leon?).
André Beda
Não vamos ser hipócritas, a verdade é que desde muito cedo, culpa da imprensa, os The Black Keys sempre viveram na sombra dos The White Stripes sem razão lógica. Apesar de o número de elementos bem como o blues e o garage rock serem os únicos factores comuns entre estes dois projectos, a bem da verdade temos de assumir este facto. Os The Black Keys nunca conseguiram sobressair e assumir-se como um dos pesos nos muitos duos (bateria e guitarra/voz) que por aí existem. Com o intervalo do White Stripes na hora da edição deste sexto álbum dos The Black Keys e a inegável qualidade deste disco trouxeram à banda um enorme fôlego, um fôlego à sua carreira que demorava em aparecer para ser aplaudida. E os aplausos não foram para menos.
Primeiro devo referir um factor que acho essencial para este meu desabafo e pequena indignação referida em cima: este é o sexto álbum de originais na carreira do duo norte-americano, repito sexto! Será que foi agora que todos, ou a maior parte dos ouvintes, ouviu o resto da sua discografia? Para bem da sanidade de todos espero que assim o tenham feito para verem que os The Black Keys já cá estão há tempo suficiente para tais elogios de amor ditos e reditos só com este seu último disco.
Voltemos então ao que importa. Evoco desde já os prémios e feitos que Brothers conseguiu alcançar: Grammy e presença em todos os tops e listas de melhores de 2010 - se assim não aconteceu, devia acontecer -, e nem falo em vendas que hoje em dia pouco importam. Vamos então ao disco. A sobriedade da capa desde logo chama a atenção, simples é o adjectivo a referir e mais não é pedido: "Este é um álbum dos The Black Keys. O nome deste álbum é Brothers", directo e cru, tal como a sua música. O negro do fundo da capa, aparentemente ou não, tem um paralelismo com a sua música: bateria forte, melodias sombrias que nos remetem a ambientes da mesma cor e espírito soul na alma da banda.
Brothers, olhando para o título, é uma celebração da irmandade Dan Auerbach e Patrick Caney, com Danger Mouse como apaziguador e elemento que fomentou a introdução de algum psicadelismo ao disco, que aqui traz uma série de hits e fórmulas directas à memória. Basta ouvir "Everlasting Light", "Next Girl", "Tighten Up", "Howlin' For You", "She's Long Gone" ou "Too Afraid To Love You" e ver como nos rendemos à música dos The Black Keys. A fórmula é simples e repetida ao logo do álbum, riffs hipnotizantes q. b., espaço para experimentalismo nas teclas q. b., bateria pujante e de ritmo certeiro, voz ora abrasadora ou delico-doce e bom-humor borrado em tons de negro. Uma hora bem passada sem darmos pelo passar da mesma.
O melhor álbum dos The Black Keys não é aquele onde mais se reinventam mas o mérito está na experiência e na sua marca, já vincada, sublinhe-se, do duo já com seis álbuns na gaveta e dez anos nestas andanças. A experiência e a insistência ganhou finalmente os contornes desejados pela banda e pelo o apreciadores puros de blues e de rock, que voltou, nem que seja só por alguns momentos, às bocas do mundo. Os The White Stripes, aparentemente, tão cedo não voltam e os The Black Keys, com espaço - criado por eles próprios -, sucesso e qualidade que sobeja, vieram para ficar! Aleluia!
Carlos Montês

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