Sejamos directos: parece que o mundo já se esqueceu dos Black Rebel Motorcycle Club. Aqui no Ruído Alternativo não foram esquecidos e, mais uma vez, sendo directo: até estamos gratos por não se terem transformado nuns The Strokes. Não me interpretem mal: não estou a dizer que os Strokes são maus. Apenas são uma banda que, hoje em dia, é incapaz de fazer um álbum. Desde Room On Fire que é assim, nunca mais fizeram um álbum, vão metendo algumas boas músicas no meio de tantas outras não tão boas, sendo o maior exemplo desta situação Angles, lançado já este ano.
Beat The Devil's Tattoo é um disco bem mais tradicional que o seu antecessor, The Effects Of 333 (2008), disco que foi completamente arrasado pela crítica. Depois de descarregado todo o experimentalismo, ou talvez não, volta-se a formula original: um belo disco de rock sem tretas. Há espaço para tudo, desde riffs «a abrir», a refrões cativantes, passando por percussões marcantes. Apesar disto há também espaço para a diversidade, uma vez que Beat The Devil's Tattoo não é feito apenas pela agressividade de "Beat The Devil's Tattoo" e "Conscience Killer". Há também lugar para "Bad Blood", que recupera a sonoridade do indie rock do início do século dos próprios B.R.M.C., The Strokes e The Libertines; "War Machine" a trazer traços de uma estranha mistura de White Stripes com shoegaze; e também para a harmónica de "Sweet Feeling".
Apesar de nos tentarem convencer do contrário, Beat The Devil's Tattoo não é, em nenhum momento, inferior ao que muitas bandas que se estrearam ao mesmo tempo que os Black Rebel Motorcycle Club ou lhes seguiram os espaços fazem neste momento. É altamente provável que o grupo norte-americano continue a ser esquecido ou criticado pela imprensa, talvez por já não ser novidade, ou não andar nas bocas do mundo por outros motivos que não a música. Aqui trabalhamos com factos e Beat The Devil's Tattoo é, de facto, do que melhor se fez na área do rock no ano passado. Pela minha minha parte, peço desculpa pelo facto dos Black Rebel Motorcycle Club ainda conseguirem por meu o pé a bater ou a minha cabeça a abanar.
André Beda2001 foi o ano da sua estreia, na altura também eles, juntamente com os The White Stripes e, principalmente, com os The Strokes foram encaixotados e apelidados como os "salvadores do rock", quase dez anos após o disco B.R.M.C., a sua aclamada estreia, a banda continua no activo, e melhor que nunca - ao contrário dos The Strokes, que só editaram ainda três discos, com um intervalo pelo meio, e dos The White Stripes, que puseram termo à sua carreira. Quem são realmente os salvadores do rock neste novo milénio então? Duas certezas devem ser aqui mencionadas, os Black Rebel Motorcycle Club continuaram no activo, já com seis discos cá fora, e, no entanto, não alcançaram o mesmo patamar que estas duas bandas que aqui já referi. Porém não é o factor sucesso que deixa o seu percurso manchado. Terem-se desmarcado desse estrelato, muito provavelmente, fez com que a banda não tivesse o mesmo rumo que os The White Stripes, que anunciaram o fim no início de 2011, nem o mesmo que o dos The Strokes, que tarde ou nunca mais se endireitam após a sua gloriosa estreia. Vivem do rock como poucos e não será certamente o sucesso aquilo que os alimenta. Todavia Beat The Devil's Tattoo não deixa de ser um dos marcos do ano de 2010. A banda regressou aos discos com uma nova baterista, Leah Shapiro, e como trio abordou este novo disco.É evidente notar que o reconhecimento da imprensa neste novo álbum não é o mesmo que conseguiram outrora mas a banda continua a rockar que se farta. A nova baterista tem ritmo e força nas baquetas e certamente que esta, ao vivo, será um dos novos pólos das atenções dos Black Rebel Motorcycle Club. O blues, gospel e o garage rock voltam a inundar a banda - sendo essa a sua marca já há mais de dez anos - e o experimentalismo de The Effects Of 333 de 2008, o álbum que antecede a este, dissiparam-se, para bem de todos, assim o reconhecemos. O regresso às origens é evidente e a banda volta a colar-se de novo aos riffs eléctricos, pegajosos e cheios de vibe como antigamente. Agarram os blues com os dentes serrados, arranham os ambientes negros com o coração e trabalham ainda nalguma folk ou country aqui e ali sem que isso pareça pretensioso de mais, aliás esta aproximação e novo rumo, diferente do álbum antecessor, dá um 'je ne se qoi' ao disco.Depois de quatro álbuns amplamente frutuosos e de um disco fora do baralho a banda entendeu, por bem, que é nesta praia que sabem nadar. Apesar de muitos se terem esquecido de quem os Black Rebel Motorcycle Club foram, parece que o percalço anterior deixou cicatrizes na maior parte da imprensa e de parte do público. No entanto, tal como em muitos casos no mundo do rock, basta fechar o olhos ao passado recente e olhar este álbum como o verdadeiro capítulo seguinte a Baby 81 de 2007; basta olhar para The Effects Of 333 com os mesmos olhos de um St. Anger dos Metallica, por exemplo. O imaginário The Velvet Underground (VU) ou The Jesus And Mary Chain estão de volta, ou seja: rock alternativo com atitude punk (VU) e algum psicadelismo e ruído prazeroso (da banda de shoegaze escocesa). Eles são bons é nisto: no rock sujo que teima em assentar que quando o faz não se deixa levar pelo vento de qualquer maneira. É bom ter-vos de volta os velhos B.R.M.C.
Carlos Montês
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