Post-rock cantado em português. Calmaria morta pela súbita distorção. Não, não falo dos Linda Martini, mas de outra banda do mesmo espectro, salvaguardando a distância devida às diferenças entre as duas bandas, os Indignu, que este ano lançaram o seu disco de estreia.
Fetus In Fetu faz-me crer que esta banda, dentro de não muito tempo, poderá ser um caso sério no panorama do rock alternativo nacional. Não é possível ficar indiferente ao primeiro longa-duração, mesmo para aqueles que, como eu, o acharam terrivelmente difícil de entrar no ouvido à primeira audição. Cheguei a pensar que os Indignu não eram tão bons como diversas críticas os faziam parecer. A verdade é que a devida distância entre primeira e segunda audição me fizeram perceber quão grande disco de post-rock é este Fetus In Fetu.
O instrumental vai muito para lá da habitual distorção do estilo em questão que, como é óbvio, marca presença, mas também existem riffs muito bem definidos, como é o caso de "Curta-Metragem (A Efectivação)". De resto, neste disco encontram-se diferentes abordagens, tais como: a acústica "Ouvidos De Bigorna", a puramente raivosa "Curta-Metragem (A Efectivação)", a instrumental "Rafaela" ou uma "Duzentas Promessas Para Um Mundo Melhor", construída a partir das palavras de Valter Hugo Mãe, mostram bem a pluralidade de ambientes e estilos sonoros presentes em Fetus In Fetu.
Os Indignu parecem-me ser uma banda que aposta em fazer carreira pelo circuito mais alternativo. Se esse for o caso Fetus In Fetu, que poderá não ser o suficiente para lançar essa carreira, foi um estrondoso começo, que nos faz ficar expectantes quanto a um novo trabalho. Está aqui um belo disco não só de post-rock, como também dentro do espectro mais alargado do rock. Esse que dizem que já morreu ou está para morrer. Dá para acreditar?
André BedaBraga, terra de bons ventos, e Barcelos, que se afirma hoje como uma das cidades com mais bandas per capita, são estes os dados dos Indignu. Depois de um EP em 2007 (Manifesto Anormal Do Fundamento) eis que nos chega a sua estreia em 2010, com uma abordagem um pouco diferente.
Discreta, mas suficientemente boa para chegar a muitos bons ouvidos e listas, Fetus In Fetu é claramente um embrião do que se pode vir a tornar-se em algo grande. O post-rock é rei aqui, o shoegaze paira no ar, o punk corre na guitarra e o minimalismo e o ambiental são a procura. Aposta feita num género que cresce a passos largos no mundo e também em Portugal (exemplos de Linda Martini, Catacombe, Riding Pânico, Men Eater, Utter, If Lucy Fell...). Revelação certa no ano que passou.
A capacidade de surpreender neste disco é grande, começando logo ao primeiro tiro com "Prenúncio". A tentativa de algum conceptualismo com "Curta-Metragem", dividido em três actos - "(A Espera)", "(A Saída)" e "(A Efectivação)" - torna-se frutuosa. Há exaltação, há intervenção. A música, o instrumentalismo, ao longo de todo o disco, é alicerce, a palavra, apesar de pouca, não é gasta em vão, reforça a ideia. Os pormenores são estudados e ouvem-se com uma naturalidade brilhante.Se isto não tiver pernas para andar é porque o público, a imprensa, as rádios, os festivais, todos nós estamos a cortá-las, quando a qualidade é o que não falta neste disco. Há aqui uma personalidade vincada, não há lugar para comercialismos e facilitismos, apenas a busca por uma música maior, pelo espaço e tempo das guitarras. É de querer ouvir mais uma e uma vez para perceber como é construído este disco. Fetus In Fetu é um exemplo de excelência a seguir. Como se diz, na gíria musical, "o que hoje é underground amanhã bem pode ser mainstream" - os Nirvana mostraram-no ao mundo. Então, sendo assim, que o amanhã chegue rápido porque isto não pode morrer quando só falta abrir a porta do sucesso, da visibilidade.
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