14 anos depois do seu último disco, o caldeirão musical de Michael Gira e companhia - os Swans - está de volta. Numa era em que grande parte do enfoque do público vai para propostas minimalistas, a mim, pelo menos, sabe bem ouvir algo mais elaborado de vez em quando. Nem que "algo mais elaborado", seja produzido por uma banda que começou nos anos 80. O que é certo é que os Swans são uma banda pouco previsível, algo que, independentemente da minha avaliação final, me agrada.
My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky é a habitual esquizofrenia sonora com à qual os Swans ficaram para sempre associados: ora o ambiente é calmo e relaxante, ora é a total convergência de todos os ruídos que o ser-humano julga existir. Catalogar este disco, ou qualquer outro lançamento da carreira da banda, é uma tarefa impossível. Estes tipos caem nas limitações onde quase todos os músicos caem - não têm qualquer receio de passar a linha do rock, seguindo para a música clássica, voltando a dar uma volta de 180º para passar ao domínio da folk. My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky é, simplesmente, a melhor audição global de estilos de música que se pode fazer 44 minutos, a duração do álbum.
André BedaDepois da sua separação em 1997, os Swans regressam em 2010 com novo disco - mas que disco! Primeiro em 14 anos, My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky é um dos álbuns mais aclamados do ano passou. Sempre pré-dispostos a encontrarem novas saídas e ambientes para cada música, este novo álbum cai no goto - parafraseando Fernando Mendes d'"O Preço Certo" - que é "um espectáculo!".
Logo à primeira nota de "No Words/No Thoughts", a faixa de 9 minutos e tal que abre o disco, e enquanto o diabo esfrega o olho, passamos da estranheza à admiração pela forma como somos inundados pela música do sexteto. (Seis músicos, aqui, podem parecer muito mas são os suficientes para existir coordenação, timing, beleza e grandiosidade.) A faixa da abertura é um constante suspense, uma ode ao universo de My Father... - difícil de catalogar quando os seus tentáculos chegam a tantos géneros.
Depois temos urgência ("My Birth", "Eden Prison"), delicadeza ("Little Mouth"), nuance ("Jim", "Inside Madeline"), simplicidade ("Reeling The Liars In"), e temos Devendra Banhart que dá uma mãozinha à catastrófica "You Fucking People Make Me Sick" - que começa numa doce canção acabando naquilo que parece ser o fim do mundo. Tudo compactado num só disco, de oito gigantes músicas, recomendado a todos os que querem ser surpreendidos a cada quatro tempos. É garantido. O universo da imprensa musical, em uníssono, também o recomenda. É (ou)ver para crer.
Carlos Montês
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