No próximo Domingo, 9 de Setembro, o Ruído Alternativo presta homenagem a Phil Mendrix, um dos guitarristas mais consagrados em Portugal que nos deixou a 13 de Agosto, aos 70 anos - altura em que o Ruído estava de férias e sem emissões na rádio.
O músico esteve ligado por mais de 50 anos à música, tendo atravessado todas as décadas do rock português e ao longo de duas horas na Tejo FM tentaremos fazer o retrato mais fiel possível à sua carreira com destaque para a música dos vários projectos pelos quais passou.
Filipe Alberto do Paço d'Oliveira Mendes nasceu em Lisboa, a 10 de Novembro de 1947, e dois anos depois foi levado com os pais para Moçambique, para onde emigraram. Aos sete anos teve aulas de piano e aos 14 anos nasceu o mito: o avô dá-lhe uma viola. Em pouco tempo Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard passam a ídolos e quando regressa a Portugal já Rolling Stones e Beatles fazem parte da sua dieta. A sua primeira banda dá pelo nome de Os Monstros.
Junta-se à movida nacional do ié-ié português, entra n'Os Chinchilas, onde se assume rapidamente como líder e onde lança os primeiros registos discográficos, e em 1967, logo depois da edição do primeiro EP pel'Os Chinchilas decide aprimorar a técnica e em pleno ano do psicadelismo e viaja para a Chicago School of Music, nos Estados Unidos da América. Regressa pouco tempo depois com a lição bem estudada, acima de tudo fora das aulas.
Entre o início e o fim d'Os Chinchilas entra nos Fluido, banda onde Paulo de Carvalho se destacava, toca no mítico festival de Vilar de Mouros de 1971 com os seus Chinchilas e no ano seguinte estava terminada a banda que o viu nascer e que chegou a tocar em Espanha.
A década de '70 arranca com casamento para Filipe Mendes. Entre em 1971 para o Grupo 5, onde não gravou, sendo a banda reformulada e mudando o nome para Heavy Band - uma banda que cruzava o reportório próprio com versões "incendiárias" (diz quem os viu ao vivo) para Zeppelin, Purple ou Sabbath. A Heavy Band instala-se na então colónia portuguesa de Angola e lá edita dois singles, apenas para o mercado angolano e que hoje são raridades muito procuradas. Tocam ainda pelo Brasil, onde se diz também terem gravado, e é aí que abrem concertos de Gilberto Gil ou dos Mutantes. No regresso a Portugal, nova mexida na formação e em 1975 chegava ao fim o grupo.
Na carreira de Filipe Mendes seguem-se os Psico, grupo formado em 1968 e para o qual o guitarrista entra em 1977, com uma formação já renovada. No ano seguinte estavam a editar o seu único disco, um single de imaginário progressivo, e em pouco tempo estavam dissolvidos.
A aventura seguinte dá pelo nome de Roxigénio, numa altura em que o boom do rock português está à espreita. A banda onde militava também António Garcez insistiu em cantar em inglês, sendo conotados como imperialistas, e apesar de três discos de originais editados não vingam. Passam pelo Vilar de Mouros e tentam ainda uma abordagem ao idioma português com os Transatlântico, mas o sucesso não chega. É aí que surge a decisão de uma vida...
Em 1983 Filipe Mendes decide ir com a mulher e cinco filhos para uma aldeia remota no Brasil, perto de Minas Gerais, onde fica durante 10 anos. Faz concertos em própria casa, em noites de lua cheia, toca sob o nome de Philipe Português e assim se passa uma década de guitarra na mão do outro lado do Atlântico.
Regressa a Portugal em 1992 e no Porto faz-se professor de música, num ano em que toca ao vivo com os Telectu. Reformula os Roxigénio e entre várias primeiras partes para os Ena Pá 2000 surge o convite: Manuel João Vieira, líder do grupo, convida Filipe Mendes para tocar guitarra-solo nos Ena Pá e baptiza-o como Phil Mendrix, alter-ego que o acompanharia para o resto da vida e que o fez renascer.
Com entrada no universo de Manuel João Vieira, também não escapa aos Irmãos Catita, onde também grava tal como já fazia nos Ena Pá 2000. E assim, com uma vida renovada enquanto músico, e entre colaborações e projectos menos conhecidos do grande público, surge o novo milénio. Phil regressa às origens: Os Chinchilas são reformulados e voltam pontualmente à estrada, junta-se ainda aos cartaxeiros Os Charruas ao vivo e ainda há espaço para um disco em nome próprio lançado 2006, Solos.
Nos últimos anos destaque para a festa dos seus 50 anos de carreira, em 2012, no Ritz Clube, em Lisboa, na companhia de Jorge Palma ou Rui Veloso, a medalha de honra da SPA e ainda um documentário sobre a sua vida do realizador Paulo Abreu, lançado em 2015. Antes, em 2013, para um mini-documentário da Lintas/Molotov, "A Felicida É Um Solo de Guitarra", Phil afirmava que estava a gravar um novo disco em nome próprio, do qual pouco se sabe.
A 13 de Agosto passado a tragédia bateu à porta: Phil Mendrix morreu, aos 70 anos, vítima de doença prolongada. Nos últimos dias no hospital, segundo a família, mesmo inconsciente continuava a dedilhar com as mãos como se tivesse a tocar, tal como fazia ao dormir. Fica o mito!
Este Domingo, o Ruído Alternativo mergulha no legado de Phil e na segunda hora do programa dedicamos a emissão à Nova Música Portuguesa. A não perder!
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Ruído Alternativo: Domingo, 22h-24h na Tejo FM (emissão online aqui).
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