Uma das bandas que menos quer saber do sucesso que fazem no mundo, pelo menos segundo dão a entender, lançou no ano passado A-Lex. Os brasileiros Sepultura apostam claramente em elevar a fasquia e fazer música que não pode ser compreendida por qualquer um.
As experimentações continuam e, depois da obra-prima que foi Dante XXI, chega A-Lex, onde a experimentação chegou ao ponto de fazer uma versão para a nona sinfonia de Beethoven. Os Sepultura serão, certamente, a banda mais incompreendida do mundo, algo causado pela saída do carismático Max Cavalera, já lá vão 14 anos e agravado com a saída do seu irmão Igor logo após o lançamento de Dante XXI. Não é novidade que hoje é Andreas Kisser o grande líder da banda, e se em 1996 foi Max que quis sair, hoje a reunião dos membros que tornaram a banda famosa ainda não aconteceu por causa de Kisser. Empenhado em levar a sonoridade renovada dos Sepultura o mais longe possível, o guitarrista, para já, não abdica disso a troco de uma tournée saudosista feita por pessoas que notoriamente não ultrapassaram as suas antigas desavenças.
Falando dos Sepultura de hoje, as novidades em A-Lex começam na bateria onde pela primeira vez não temos Igor Cavalera mas sim Jean Dollabella naquilo que se pode descrever como uma agradável surpresa. Fazer esquecer Igor não era fácil e a escolha de um baterista que pouco teria a ver com o tipo de percussão que os Sepultura necessitam, não convenceu os seguidores do grupo de Minas Gerais. A verdade é que Dollabella se tem mostrado impressionante ao vivo e A-Lex saiu com linhas de bateria bem complexas e merecidas de serem escutadas com atenção.
Depois das boas críticas recebidas por Dante XXI, descrito pelos críticos como o melhor álbum dos Sepultura da "Era Derrick Green" - embora eu entenda que esta classificação é modesta, pois se este álbum fosse gravado por Max em vez do Predator, seria imediatamente considerado um dos melhores discos lançados por eles -, não se avizinhava nada fácil a tarefa de fazer melhor. Bom, bem vistas as coisas A-Lex está uns furos abaixo na escala qualitativa em relação ao seu antecessor, mas é muito mais plural em termos de sonoridades. Se Dante XXI poderia ser considerado um álbum de groove metal sinfónico, em A-Lex encontramos groove, death, punk hardcore, thrash, música clássica e até os ritmos e coros tribais rebuscados dos tempos de Roots, mas desta vez bem introduzidos na música "Filthy Rot", diga-se de passagem.
Falando em termos de vocalizações pouco há a dizer, pois já conhecíamos o poderio de voz de Derrick Green de outros trabalhos. Se é algo que ninguém nega é que o homem tem um vozeirão que, por vezes, até assusta. Paulo Xisto é hoje uma peça muito mais importante na banda do que era antes de 1996, pois o baixo tem vindo a ganhar uma importância crescente, de disco para disco, na música dos Sepultura. Andreas Kisser deixou de parecer um seguidor de Kerry King e passou a parecer aluno de Jimi Hendrix tal a complexidade de alguns arranjos de guitarra que acompanham músicas como "The Treatment" e "Ludwig Van". Ainda assim continua a haver espaço para riffs secos e agressivos como em "What I Do!", durante a viagem pelo disco baseado na obra de Anthony Burgess de seu nome Laranja Mecânica.
Talvez daqui a alguns anos estes Sepultura tenham um nível de reconhecimento diferente, tal como os Black Sabbath que era ignorados na década de 80 e hoje são considerados por muitos a banda mais importante de sempre do rock. Para já a banda parece querer tocar até que as pessoas os vejam com os olhos com que viram noutros tempos. Vamos ver se a persistência resiste ao facilitismo de reunir a formação clássica...
André Beda
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