quarta-feira, dezembro 19, 2018

Emissão Especial: Nova Música Portuguesa + Pete Shelley (1955-2018)

No Domingo, antes do Natal, o Ruído Alternativo faz a devida homenagem à carreira de Pete Shelley. O músico foi uma das figuras de proa do punk rock britânico, deixando para trás uma marca muito própria num género que muitas vezes se espera áspero.

Shelley morreu a 6 de Dezembro, na Estónia, aos 63 anos, e é tempo de recordar a sua música ao longo de 60 minutos de emissão.

Na primeira parte deste programa temos mais uma hora de nova música portuguesa para escuta!


Ainda nem os Buzzcocks tinham nascido e já Pete Shelley andava a gravar música que só anos mais tarde é que sairia para a rua. Nessa época, era a electrónica a matéria-prima do britânico, mas seria no punk rock que se revelaria ao mundo.

Em 1975, Pete Shelley respondeu a um anuncio de Howard Devoto, que procurava por músicos que partilhassem o seu gosto pelos Velvet Underground, e assim nasceram os Buzzcocks. No ano seguinte a banda já tinha a formação completa com quatro elementos, mas antes de se atirarem às gravações surgem os Sex Pistols no seu caminho. Shelley e Devoto viram o grupo de "God Save The Queen" em Londres e conseguem convencê-los a actuar em Manchester - lá imaginariam eles que entre a assistência dos concertos dos Pistols em Manchester estariam os futuros membros dos Joy Division, The Fall, The Smiths e até fundadores da importante editora Factory.

Depois de abrirem a primeira parte de um dos concertos dos Sex Pistols, os Buzzcocks atiram-se para o primeiro disco - e que importante que foi! Logo no início de 1977 sai o EP Spiral Scratch, um disco que fora lançado pela editora que os Buzzcocks criaram, a New Hormones. Nascia assim uma das primeiras editoras independentes do punk rock que mostrou que qualquer pessoa podia lançar a sua própria música - enquanto o género punk já mostrava que qualquer um poderia ter uma banda de rock.

Depois da saída de Devoto do grupo, Shelley assume a posição de vocalista principal e seguem-se os singles "Orgasm Addict" (1977) e "What Do I Get?" (1978). O primeiro banido pela BBC e o segundo tem entrada no top 40 de singles britânicos, servindo de rampa de lançamento para os trabalhos seguintes: Another Music In A Different Kitchen (1978), Love Bites (1978) e A Different Kind Of Tension (1979). Os dois primeiros álbuns entram para a tabela de mais vendidos do Reino Unido e trouxeram consigo vários hinos punk, enquanto o último piscou o olho ao post-punk e, apesar de ter menos sucesso comercial e crítico, entrou na tabela norte-americana.

Em 1981, surge aquele que é considerado o melhor trabalho do grupo, que nada mais é que uma compilação de êxitos, Singles Going Steady, que voltou a colocar a banda no mapa do rock. Porém, é nesse mesmo ano que o grupo se dissolve. Entre as razões estão: impasses com a editora e os projectos paralelos que começaram a surgir no seio dos Buzzcocks.

Por esta altura já Pete Shelley tinha editado o primeiro disco a solo, Sky Yen (1980), que havia sido gravado em 1974, como referido em cima, e já tinha lançado música com os Tiller Boys, banda de curta duração que chegou a abrir para os Joy Division e que cruzava o post-punk instrumental com a new wave. Nesse ano [1980] Pete também tinha a sua assinatura na banda sonora de um filme e no grupo Free Agents - sempre com música de toada experimental e electrónica.

Com o fim dos Buzzcocks, Shelley concentrou-se na sua carreira a solo e, ao segundo disco, atira-se para música mais 'clean' de encontro aos sons da época, a synthpop e a new wave. No entanto, ao longo dos discos Homosapien (1981), XL1 (1983) e Heaven And The Sea (1986) nunca deixou de parte as guitarras e o rock. O resultado foi uma carreira a solo com vários êxitos onde Shelley pôde explorar mais abertamente os temas da sexualidade e do amor, bem como outros espectros musicais.

Em '88, Pete Shelley volta a concretizar um novo projecto onde cruza o punk com a electrónica, os Zip, mas, sem sucesso comercial nem impacto na crítica, o regresso dos Buzzcocks precipita-se. A banda regressa em 1989 e seguem-se anos de concertos e um regresso aos discos em 1993 - o quarto da sua discografia. No ano seguinte, a banda faz a primeira parte dos Nirvana em Portugal e até 2014 saem mais cinco álbuns dos Buzzcocks. Pelo meio, em 2002, Shelley junta-se ao ex-Buzzcocks Howard Devoto com quem lança o álbum Buzzkunst, trabalho que cruza, mais uma vez, o rock com a electrónica.

Por fim, em 2016, a banda embarcou numa tour de comemoração do seu 40.º aniversário e em Janeiro próximo saem para as lojas as reedições dos seus dois primeiros LPs - não se sabendo ao certo o que reserva o futuro para os Buzzcocks após a morte de Pete Shelley.

Bissexual assumido, Pete Shelley foi viver com a sua segunda mulher para a Estónia, em 2012, país onde veio a falecer no passado dia 6 de Dezembro, aos 63 anos, na sequência de um ataque cardíaco. Desapareceu assim um dos ícones do punk rock que deixa um importante legado não só no punk. Pete Shelley afirmou-se como um punk rocker diferente de outros, menos duro, sem pins, crachás nem alfinetes, que, a solo ou em banda, colocou os temas da identidade sexual e do amor na ordem do dia, ao contrário dos seus contemporâneos. Mostrou que todos podemos ser punks.

Na segunda hora do programa deste Domingo, 23 de Dezembro, o Ruído Alternativo mergulha no legado de Pete Shelley, numa emissão a não perder!

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Ruído AlternativoDomingo22h-24h na Tejo FM (emissão online aqui).

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