quinta-feira, dezembro 21, 2017

Colecção RA: Xutos & Pontapés - "78/82" (1982) & Xutos & Pontapés - "Circo De Feras" (1987)

Há três semanas surgiu a notícia, Zé Pedro, figura maior do rock nacional, morreu. O guitarrista e fundador dos Xutos & Pontapés desapareceu aos 61 anos, mas o legado que deixou é enorme.
 
Por aqui já dedicámos um programa inteiro à sua carreira e agora é hora de colocarmos na Colecção RA não um mas dois discos da sua carreira. Se a entrada de Circo De Feras (1987) para a colecção é indiscutível, o álbum de estreia talvez não seja. No entanto, 78/82 (1982) que mostra uns Xutos directos e crus, numa fase inicial da sua carreira que importa lembrar.

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Como hoje sabemos, os Xutos & Pontapés demoraram quase nove anos a serem uma banda conhecida de grande parte do público nacional. Os primeiros anos da banda são marcados por mudanças de formação, dificuldades em conseguir um contrato discográfico e também por músicas banidas da antena da Rádio Renascença. Apesar de tudo, não demoraram muito tempo a gravar os primeiros singles e o primeiro LP, 78/82, o que começou a acontecer a partir de 1981 quando o radialista António Sérgio lhes estendeu a mão. As dificuldades acima referidas são até, de certo modo, uma consequência dos primeiros lançamentos dos Xutos. No entanto, achámos importante dissecar um disco que reúne as canções dos primeiros dias da banda numa produção pouco intrusiva e que ainda deixou para a história clássicos com "Avé Maria", "Quando Eu Morrer", "Mãe" ou "Morte Lenta"

AB
 
Xutos & Pontapés

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Foi numa noite de copos, no bar Gingão, no Bairro Alto (Lisboa), entre Zé Pedro e Tim, que "Circo De Feras" surgiu como ideia - título depois rebuscado para nome do terceiro álbum de originais dos Xutos & Pontapés. No entanto, não foi aqui que a história deste disco começou. Circo De Feras surge numa época em que a banda estava em clara ascensão, ciente que estavam a passos do sucesso nacional, e a poucas etapas de receber a coroa de maior banda em Portugal... O caminho até este terceiro disco não foi fácil, mas os Xutos estiveram sempre unidos e trabalharam muito para garantir o seu espaço e a eternidade na história da música portuguesa. E, para além disso, mudaram a indústria da música nesta época, assim como o modo de fazer espectáculos. Com o sucesso que geraram, criaram uma estrutura que lhes permitiu tocar em qualquer ponto do país e têm uma importância muito maior do que muitas vezes possamos imaginar. Sobre Circo De Feras falarei mais na "Antevisão/Destaques" deste Sábado; para já recordo um editorial do Jornal Optimus/Blitz que o Ruído Alternativo fez a questão de sublinhar em 2009:

“ (...) provaram à sociedade que é possível viver da música eléctrica feita em Portugal. Sem eles, muito provavelmente, não existiriam bandas portuguesas, salas de espectáculos, editoras, programas de rádio, ou uma revista (...) os Xutos & Pontapés nasceram da vontade de inventar uma vida nova, com tudo o que isso implica em termos de circuitos para actuações, profissionalização de estruturas e criação de públicos. (...) naquele tempo, os espectadores de um espectáculo de rock não sabiam como se comportar (...) Não sabiam coisas tão simples como o que fazer, se dançar, se ficar parado, abanar a cabeça ou levantar os braços. Pois é, os Xutos & Pontapés são o início da história do rock em Portugal. E 30 anos depois continuam a ser «a» banda rock em Portugal.
(…)
Hoje, eles são, muito à maneira dos Rolling Stones, a bandeira do rock’n’roll em Portugal. Provaram que o rock não é coisa só para jovens inconscientes (mas também!), nem para inadaptados (idem): o rock é a vida deles. E, por causa disso, também passou a ser um bocadinho da nossa. Obrigado e parabéns!”
por Luís Guerra,
in XXX [Editorial]; Jornal Optimus/Blitz; Fevereiro 2009, n.º10
 
CM

Xutos & Pontapés
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Ruído Alternativo: Domingo22h-24h na Tejo FM (emissão online aqui).

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