
O
"difícil segundo disco" dos
Doismileoito transformou-se em 2011 no seu maior sucesso. Porquê? Por duas razões.
"Quinta-feira", faixa que abre este
Pés Frios, é o
single perfeito para responder a uma carreira que em 2008 (o ano) já trazia muitas expectativas - quando nem a estreia em homónimo (2009) ainda nem conhecia edição física; e em segundo, porque a banda criou um álbum [coeso] na assunção da palavra.
A estreia da banda em 2009 trouxe consigo muita pressão. A eterna busca pelos
"novos Ornatos Violeta" - de que a imprensa tem grande responsabilidade -, reflectida em nomes como, por exemplo, os
Linda Martini ou
Os Golpes, pesou demais nos
Doismileoito e no início da sua carreira, quando os próprios ainda procuravam uma identidade. A pressão foi muita e, para além disso, a estreia não correu da melhor forma - ou pelo menos como se esperava. O disco de apresentação trazia uma série de boas faixas soltas, que a banda reuniu em anos anteriores, mas algumas faixas pecavam por ser mais do mesmo ou por não condizerem com o resto do álbum, enquanto conjunto de músicas - com ou sem conceito. Ou seja, no fundo sofreram com o sintoma de grandes expectativas impostos pela imprensa.
Já com
Pés Frios, do ano passado, a banda cria finalmente 'o seu álbum', e os fãs que teimavam em aceitar bem a sua música, tiveram razão em continuar a apostar neles.
Pés Frios - pela própria capa do disco e pelo título - poderia ser sinónimo de frieza, distância e sobriedade na nova música apresentada, mas tais factores revelam-se apenas 'opções editoriais' da própria banda. Apenas é visível tal soturnidade em temas melosos como os dois últimos do disco:
"Só Faço Bem" e a despedida saudosa, que nos faz salivar por mais,
"Atrás De Mim".
Ao longo do disco sentimos a presença de todos os dados lançados anteriormente: teclados
pop, bateria quente, baixo seguro e guitarras solarengas (ora esperançosas, ora alegres). No entanto, é do vocalista, Pedro Pode, e das suas letras, que se constrói este álbum. Pedro Pode faz da palavra a sua arma maior, e da sua peculiar dicção e entoação o toque distinto em relação a tantos outros projectos em português que procuram pela canção
pop/rock perfeita. Para além de se notar uma segurança muito maior nos
Doismileoito, a banda soube retirar o melhor do seu potencial. O resultado disto tudo é: pés frios, coração quente, alma resolvida e cabeça limpa.
Agora, sim(!), lancem todas as expectativas neles.
Pés Frios é o disco em que se pode dizer:
"eles têm futuro!", e afirmar que a sua estreia foi uma
"Quinta-feira": onde se engasgaram, mas para nosso
"bem".
Carlos Montês
Sem comentários:
Enviar um comentário