quinta-feira, março 22, 2012

A Análise: Doismileoito - "Pés Frios"

O "difícil segundo disco" dos Doismileoito transformou-se em 2011 no seu maior sucesso. Porquê? Por duas razões. "Quinta-feira", faixa que abre este Pés Frios, é o single perfeito para responder a uma carreira que em 2008 (o ano) já trazia muitas expectativas - quando nem a estreia em homónimo (2009) ainda nem conhecia edição física; e em segundo, porque a banda criou um álbum [coeso] na assunção da palavra.
A estreia da banda em 2009 trouxe consigo muita pressão. A eterna busca pelos "novos Ornatos Violeta" - de que a imprensa tem grande responsabilidade -, reflectida em nomes como, por exemplo, os Linda Martini ou Os Golpes, pesou demais nos Doismileoito e no início da sua carreira, quando os próprios ainda procuravam uma identidade. A pressão foi muita e, para além disso, a estreia não correu da melhor forma - ou pelo menos como se esperava. O disco de apresentação trazia uma série de boas faixas soltas, que a banda reuniu em anos anteriores, mas algumas faixas pecavam por ser mais do mesmo ou por não condizerem com o resto do álbum, enquanto conjunto de músicas - com ou sem conceito. Ou seja, no fundo sofreram com o sintoma de grandes expectativas impostos pela imprensa.
Já com Pés Frios, do ano passado, a banda cria finalmente 'o seu álbum', e os fãs que teimavam em aceitar bem a sua música, tiveram razão em continuar a apostar neles. Pés Frios - pela própria capa do disco e pelo título - poderia ser sinónimo de frieza, distância e sobriedade na nova música apresentada, mas tais factores revelam-se apenas 'opções editoriais' da própria banda. Apenas é visível tal soturnidade em temas melosos como os dois últimos do disco: "Só Faço Bem" e a despedida saudosa, que nos faz salivar por mais, "Atrás De Mim".
Ao longo do disco sentimos a presença de todos os dados lançados anteriormente: teclados pop, bateria quente, baixo seguro e guitarras solarengas (ora esperançosas, ora alegres). No entanto, é do vocalista, Pedro Pode, e das suas letras, que se constrói este álbum. Pedro Pode faz da palavra a sua arma maior, e da sua peculiar dicção e entoação o toque distinto em relação a tantos outros projectos em português que procuram pela canção pop/rock perfeita. Para além de se notar uma segurança muito maior nos Doismileoito, a banda soube retirar o melhor do seu potencial. O resultado disto tudo é: pés frios, coração quente, alma resolvida e cabeça limpa.
Agora, sim(!), lancem todas as expectativas neles. Pés Frios é o disco em que se pode dizer: "eles têm futuro!", e afirmar que a sua estreia foi uma "Quinta-feira": onde se engasgaram, mas para nosso "bem".
Carlos Montês

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