Chegados ao último Domingo do mês de Março, é altura do Ruído Alternativo trazer de volta à antena a rubrica Colecção RA, como é de resto habitual. Dois discos para ouvir do primeiro ao último segundo nesta emissão: na primeira parte comemoramos os 50 anos de The Velvet Underground & Nico e na segunda hora os 25 de Mutantes S.21 dos Mão Morta.
(1967) The Velvet Underground & Nico - The Velvet Underground & Nico
Em 1965 norte-americano Lou Reed (que já tinha iniciado experimentações no rock) e o galês John Cale (de formação clássica) juntam-se num projecto, a base Velvet Undergroud. Os músicos foram entrando até a formação ficar definida como Sterling Morrison e Moe Tucker. A estes juntou-se Andy Warhol, uma das peças chave para um grupo que através dos seus espectáculos multimédia pôde actuar pelos Estados Unidos das América e pelo Canadá. O artista foi ainda produtor do grupo (embora esta função traga sempre muitas dúvidas na hora de documentar o disco), manager e deu liberdade para que os Velvet pudessem criar sem limites. Sugeriu a entrada da cantora e modelo alemã Nico nalgumas canções que num primeiro momento trouxe mais público à sua música. Em 1967, com o disco de estreia nas lojas, começou o calvário: os críticos não ligaram ao álbum, as vendas foram quase nenhumas, as rádios recusavam-se a passar a música da banda, as revistas não colocavam anúncios sobre o disco e houve ainda quem pedisse dinheiro pela foto utilizada na contracapa do disco. The Velvet Underground & Nico só seria compreendido uma década mais tarde. E géneros como o art rock, o punk, o garage, o grunge, o shoegaze, o gótico, o indie ou a música alternativa muito devem a este trabalho. Este ano comemora meio século de vida e nós estamos cá para dizer que valeu bem a pena.
CM
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Em Abril de 1992 os Mão Morta davam o primeiro concerto do ano, fazendo a primeira parte dos Jesus And Mary Chain em Lisboa. As circunstâncias desse espectáculo e o que já vinha para trás - o último disco da banda pouco tinha feito para manter os bracarenses no circuito de concertos - faziam desta uma fase delicada na vida do grupo. Adolfo Luxúria Canibal convence então o manager da banda, o dono da fábrica de malas e carteiras Fungui, a apostar num último álbum. Muito provavelmente, nenhuma das partes envolvidas estaria perto de imaginar que Mutantes S.21 perpetuaria os Mão Morta no panorama da música nacional até aos dias de hoje. A premissa era ambiciosa: fazer um álbum conceptual, o primeiro do grupo, que funcionasse como uma viagem ao submundo de várias cidades, começando naturalmente por "Lisboa" e logo com uma referência ao Casal Ventoso. Apesar de apresentar um som um pouco mais polido, era um registo com um conceito e as letras continuavam banhadas de sangue, álcool e Marxismo. Normalmente, não seria suficiente para resgatar os Mão Morta do underground, mas são convidados pela RTP para gravar um videoclip. A escolha recaiu em "Budapeste", cuja a alta rotação na TV levou os Mão Morta à rádio, com um airplay massivo. No rescaldo, os concertos começaram a chover e a lenda Mão Morta chegaria até à actualidade. Mutantes S.21 comemora em 2017 os 25 anos, data redonda que vai levar o álbum na integra a vários palcos nacionais.
AB
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