No Ruído Alternativo queremos estar sempre a atentos à nova música, mas há clássicos que se impõem ouvir e recordar e a actualidade foge-nos entre os dedos. Como duas grandes notícias surgiram, tivemos que parar a carruagem de 2016 e voltar a 1970 para contar duas histórias. As estreias homónimas de Quarteto 1111 e dos Emerson, Lake & Palmer voltam aos nossos ouvidos este Domingo. Porquê? Já revelámos no artigo anterior e acrescentamos mais umas coisas neste, em baixo.
O álbum de estreia dos Quarteto 1111 é caso raro na época em que foi editado: um trabalho com uma estética sonora e lírica definidas e que mudou o panorama do rock nacional de pop rock para o psicadelismo. Um trabalho original e criativo, uma vez que na época ainda muitos grupos se colavam ao anglicanismo vigente. Era um disco interventivo e por isso foi alienado: a emigração, a guerra colonial ou racismo são temas abordados neste álbum que valeu a José Cid, António Moniz Pereira, Mário Rui Terra e Michel Silveira a censura do Estado Novo - eles que ao longo da carreira tiveram 28 canções riscadas pelo lápis azul. Produto do Conjunto Mistério, os Quarteto 1111 desde cedo que quiseram experimentar novas sonoridades e trabalhar o seu som em estúdio, o que levou a que este disco que 1970 levasse um ano a gravar. Um trabalho minucioso que depois de dias nas bancas, em Fevereiro de 1970, foi retirado pela Comissão de Censura da ditadura. Um disco que não chegou aos ouvidos de muitas pessoas e de toda uma geração que não se chegou a perceber que estávamos em sintonia com aquilo que se fazia lá fora. Quarteto 1111 é um álbum capaz de rivalizar com os discos que vinham do Reino Unido ou dos EUA e que deve ser compreendido como uma das mais importantes obras do país. Se não tivéssemos um regime ditatorial talvez a história fosse outra, afinal este disco foi o único silenciado do universo rock nacional. Porém, a história faz jus à banda e devemos sempre lembrar o caminho desbravado antes do boom dos anos 80. Há avôs do rock por aqui.
CM
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Formados em 1970, os Emerson, Lake & Palmer eram, logo à partida, um supergrupo destinado a vender milhões de discos. Compostos por Keith Emerson dos The Nice, Greg Lake dos King Crimson e Carl Palmer dos Atomic Rooster, foram um expoente máximo da Era dourada do prog rock, juntando todos os elementos mais notáveis do género: técnica, intelectualidade e grandiosidade. Foram estes mesmos três atributos que os tonaram motivo de piadas durante o pico do punk rock, que principalmente criticavam a obsessão da banda com os aspectos técnicos. Mas antes, os Emerson, Lake & Palmer deixaram um legado suficientemente extenso para ser recuperado uns anos mais tarde. Logo no disco de estreia mostravam ao que vinham, trazendo ao rock toques de jazz e adaptações de obras dos grandes vultos da música clássica. Houve ainda espaço para a folk trazer um pouco de tradição ao seu som, mais notada no single maior de Emerson, Lake & Palmer, "Lucky Man". Keith Emerson, o teclista que decidiu deixar-nos recentemente, foi naturalmente uma figura central neste disco, contribuindo com composições próprias ou até com as notáveis adaptações de temas clássicos. Um legado que jamais será esquecido.
AB
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Tudo isto, e muito mais, a não perder Domingo à noite na Tejo FM. A partir das 22h nos 102.9 FM para ou Ribatejo ou para todo o mundo na emissão online em www.tejoradiojornal.pt.
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