O frio aperta, mas pelo Ruído Alternativo o rock continua a carburar. O final de mais uma mês indica mais uma coisa: Colecção RA e mais dois discos para ouvir na íntegra. Na primeira parte temos a estreia de uma banda do punk nacional que reeditou clássicos da sua discografia e na segunda parte a homenagem a um baterista que imortalizou a pedaleira dupla. Assim sendo, Veneno (1987) dos Peste & Sida verá o seu disco ouvido na íntegra na primeira hora deste Domingo, dia 29 de Novembro, e na segunda hora será a vez de Ace Of Spades (1980) dos Motörhead.
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Tudo começou num Verão, em 86, e a subida até foi rápida. Após um concurso, onde ficam em último lugar, os Peste & Sida não desistem e ainda bem que o fizeram, afinal estavam a poucos meses de assinar um dos clássicos do punk português. Os Peste foram a primeira banda a colocar o punk de directo de Ramones, Sex Pistols ou The Clash na ribalta em Portugal, após um boom do rock que, apesar de bom para a indústria, não conseguiu fabricar e consolidar a ideia de punk à séria, por mais que a fonte deste boom seja aquela época de '77. Foram precisamente os Peste & Sida a fazê-lo de forma consistente com consequente sucesso e visibilidade. Veneno sai em 1987 (10 anos após o ano dourado do punk internacional) e torna-se no primeiro de três tiros certeiros da carreira do grupo para aquela a que se convencionou chamar a era dourada do punk em Portugal (1986-1991). Aqui abriram-se portas para: o sucesso e mediatização de um punk mais duro [até os Mata-Ratos assinaram com uma major], o underground que pôde crescer ainda mais e para o punk como ideia de liberdade, de do it yourself e de pegar em instrumentos - mesmo sem saber tocá-los. As realidades da rua, da juventude, da pobreza, do desemprego, da política,... tudo o que o punk chama a si, começaram a merecer um olhar de grandes públicos depois de os Xutos & Pontapés apresentarem o Circo De Feras. Veneno materializa isso tudo, num cruzamento de punk com post-punk, sendo o único disco (dos três clássicos agora reeditados pela banda) onde são directos e curtos [literalmente]. Os Peste não se limitaram a trazer influências estrangeiras [olhe-se também para a capa], trouxeram também até a si uma ideia de portugalidade: há música tradicional ("Carraspana"), há problemas nacionais ("o ensino é um veneno"), há referências locais (o bar Gingão do Bairro Alto)... A banda-charneira do punk começa aqui. E numa altura em que a caixa Peste & Sida 1987-1990 está nas lojas, olhamos para Veneno, clássico para ouvir e conhecer Domingo à noite.
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Rock N' Roll. Assim se caracteriza a carreira dos Motörhead,
não apenas em ter termos de música, como também na sua atitude e estilo
de vida. Os abusos de Lemmy, que recentemente trocou o seu Jack Daniels por vodka
com laranja, tornaram-se lendários e tomaram um lugar de tanto destaque
que por vezes se esquece que estamos na presença de uma banda que fez
música muito relevante, particularmente no período que vai de 1977 a
1986. Com um trio de ataque composto por Lemmy Kilmister, Fast Eddie
Clarke e Philty Animal Taylor, os Motörhead rapidamente
construíram um reportório de música rápida, simples e eficaz que ficou
gravada como parte importante da inspiração de estilos como o heavy-metal e o punk. Não são os melhores motivos que trazem os Motörhead pela primeira vez à Colecção RA, uma vez que assinalamos a morte do baterista Phil Taylor com a audição na integra do clássico Ace Of Spades.
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